O novo cenário comercial global
Em 2025, os Estados Unidos reacenderam a guerra comercial com a China ao aplicar novas tarifas de até 145% sobre produtos chineses. Em retaliação, Pequim impôs tarifas de até 125% sobre produtos americanos, incluindo itens-chave do agronegócio como soja, milho, carne e frango. Essa escalada travou o comércio entre as duas maiores economias do mundo e forçou a China a buscar novos fornecedores. Nesse contexto, o Brasil passou a ocupar um espaço estratégico, ampliando sua participação nas exportações para o gigante asiático, graças à sua escala produtiva e reputação como fornecedor confiável.
Soja: protagonismo brasileiro e alerta para volatilidade
Na cadeia da soja, os efeitos foram imediatos. Com a China praticamente fora do mercado americano, empresas chinesas passaram a comprar grandes volumes do Brasil — pelo menos 40 navios entre maio e julho. Essa movimentação elevou os prêmios nos portos nacionais e consolidou o Brasil como principal fornecedor de soja para os chineses, cobrindo cerca de 70% da demanda em 2025.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia esse cenário como o mais favorável ao país, mas alerta para a volatilidade do mercado. Um possível acordo entre EUA e China poderia redirecionar parte dessas compras de volta aos americanos. Além disso, a forte demanda pressiona a infraestrutura brasileira, gerando gargalos logísticos e reforçando a necessidade de investimentos em armazenagem e transporte.
Milho: mais espaço no mercado chinês, com cautela
O milho brasileiro também se beneficia das tensões. Desde 2022 habilitado para exportação à China, o grão nacional conquistou espaço, principalmente após a quebra da safra argentina. Em 2023, a China já era o principal destino do milho do Brasil, e em 2025, com os EUA fora da disputa, a demanda chinesa por milho brasileiro aumentou.
Apesar das boas perspectivas, a Abramilho recomenda cautela. A China vem investindo na autossuficiência, aumentando sua produção e liberando o cultivo de milho transgênico. Assim, o crescimento das importações pode ser limitado. Ainda assim, com os EUA tarifados, o Brasil tende a manter ou ampliar seu protagonismo, especialmente se continuar priorizando qualidade e segurança sanitária.
Carnes: mais competitividade na China e surpresa nos EUA
No setor de carnes, a guerra tarifária reforçou a posição do Brasil como principal fornecedor para a China. Com tarifas elevadas sobre carne bovina, suína e de frango dos EUA, o produto brasileiro ganhou mais espaço. Só nos primeiros meses de 2025, a China aumentou as importações de carne bovina brasileira em mais de 12%, e o Brasil já respondia por mais da metade das compras totais chinesas.
Além disso, os próprios Estados Unidos, enfrentando escassez de gado e preços elevados, aumentaram significativamente suas importações de carne do Brasil — mesmo com a nova tarifa de 10%. Em abril, o crescimento foi de quase 500% em relação ao ano anterior. A ABIEC destaca que, apesar das tarifas, a carne brasileira continua altamente competitiva.
Café: China se aproxima e fecha grandes acordos
No café, os impactos são indiretos, mas relevantes. A aproximação política e comercial entre Brasil e China favoreceu novos acordos. Um dos mais expressivos foi firmado entre a ApexBrasil e a gigante chinesa Luckin Coffee, prevendo a exportação de 240 mil toneladas de café brasileiro até 2029.
O consumo de café na China ainda é pequeno em relação ao chá, mas cresce de forma consistente. O momento é visto como ideal para inserir cafés especiais e produtos com valor agregado no mercado chinês, diversificando a pauta exportadora brasileira.
Riscos, desafios e perspectivas
Apesar dos ganhos em volume, preço e novos mercados, o cenário exige cautela. A CNA alerta para o risco de um possível acordo entre EUA e China que pode mudar o fluxo comercial repentinamente. Além disso, a volatilidade dos preços internacionais e os gargalos logísticos no Brasil representam desafios concretos.
Há também preocupação com o impacto ambiental. O avanço das exportações de soja e carne, por exemplo, reacende o debate sobre desmatamento e sustentabilidade. A imagem do agro brasileiro como fornecedor confiável deve ser preservada com boas práticas e respeito às legislações ambientais.
No campo diplomático, o governo brasileiro busca equilíbrio. Segundo o MAPA, a estratégia é manter boas relações com EUA e China, sem se alinhar totalmente a nenhuma das potências. Essa neutralidade pode garantir ao Brasil uma posição sólida em diferentes cenários.
Conclusão
Em meio à maior disputa comercial da década, o Brasil fortalece sua posição como líder agroexportador. O tarifaço entre EUA e China abriu uma janela única de oportunidades, que pode ser aproveitada com estratégia, responsabilidade ambiental e diversificação de mercados. O momento é positivo, mas exige planejamento e visão de longo prazo para garantir que os ganhos de 2025 se transformem em conquistas duradouras.
Fontes: CNA, MAPA, Abramilho, ABIEC, ApexBrasil, Agência Brasil, CNN Brasil, Estadão, Exame, Agrolink, Dialogue Earth.